Cidade do sudoeste do Paraná é reduto eleitoral do presidente da Assembleia Legislativa. Conteúdo de investigação foi revelado pelo g1 e a RPC.
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) identificou que dois dos três cheques do pagamento de propina ao deputado estadual Ademar Traiano (PSD), presidente da Assembleia Legislativa, foram descontados em uma oficina mecânica em Francisco Beltrão, sudoeste do estado.
A cidade de 96.666 pessoas, como apontou o Censo 2022, é a base eleitoral de Traiano.
Ele e o ex-deputado Plauto Miró admitiram que pediram e receberam propina do empresário Vicente Malucelli, que era diretor da TV Icaraí, prestadora de serviços da Assembleia na época.
De acordo com as investigações, Traiano e Miró receberam, cada um, R$ 100 mil.
As confissões foram dadas em Acordos de Não Persecução Penal (ANPP) e Acordos de Não Persecução Cível (ANPC) firmados entre os políticos e o MP. Os conteúdos que respaldaram esses acordos, com depoimentos e áudios que serviram como provas, foram divulgados pelo g1 e pela RPC.
Como firmaram os acordos, Traiano e Miró não respondem a processos.
Passo a passo
Em setembro de 2015, o MP aponta que Ademar Traiano recebeu a primeira parte do pagamento: R$ 50 mil em dinheiro dentro da Assembleia.
Entre outubro e novembro do mesmo ano, os promotores descobriram que o destino de dois cheques da propina foi uma empresa mecânica em Francisco Beltrão.
O terceiro cheque, de acordo com a Promotoria, foi depositado em uma empresa de transportes de Curitiba.
As duas empresas não foram investigadas no caso.
Repercussão na Assembleia
Na primeira sessão da Assembleia após a divulgação dos áudios da negociação de propina, o deputado estadual Fábio Oliveira (Podemos) pediu a renúncia de Ademar Traiano da presidência da casa.
As gravações foram feitas por Vicente Malucelli.
"O deputado Ademar Traiano na presidência da Assembleia é um desrespeito com essa casa e também ao povo paranaense. E novamente eu peço que por questão de ética, que por questão moral, que a reputação e credibilidade dessa casa de leis sejam mantidas. E dessa forma eu peço mais uma vez nessa tribuna que o presidente Ademar Traiano renuncie a presidência dessa casa de leis.", disse Oliveira.Durante a sessão, Traiano não mencionou os áudios que mostram a negociação e nem as declarações de Vicente Malucelli
O presidente da Alep também saiu antes do fim das duas sessões plenárias desta terça. Ele foi substituído na Mesa Executiva pelo deputado estadual Marcel Micheletto (PL).
O que dizem os citadosNa segunda (18), quando os áudios de Vicente Malucelli foram divulgados pela RPC e pelo g1,
a assessoria de Traiano disse que o deputado "reforça a validade legal do acordo realizado e que os documentos veiculados estão sob sigilo judicial".
Sobre a mesma situação, a defesa do ex-deputado Plauto reafirmou "que formalizou um acordo junto ao Ministério Público, o qual foi homologado pelo Poder Judiciário e plenamente cumprido por sua parte". Disse, também, que "conforme a legislação em vigor, o assunto está encerrado".
Os advogados de Vicente Malucelli disseram que, por motivo de sigilo processual, não podem fazer comentários, mas ressaltaram que, no acordo de colaboração, Vicente "já cumpriu com as suas obrigações e está comprometido apenas a ser futura testemunha de acusação, caso o Ministério Público ofereça denúncia contra os envolvidos".
A defesa de Joel Malucelli e do grupo J. Malucelli disse que não tem nada a declarar.
A Assembleia Legislativa disse, em nota, que o contrato com a TV Icaraí foi encerrado em novembro de 2020.