Sem queixas durante o duro trabalho de sol a sol, os pioneiros também pretendiam conforto em suas noites além do sono reparador.
Fogueiras nos quintais, velas e lampiões atendiam só às necessidades domésticas dos oestinos, pois o trato com a madeira exigia mais força.
A solução disponível no interior eram o gerador movido a óleo diesel, que as madeireiras tinham para seu uso.
Por sua vez, os trabalhadores nos lares não tinham como sustentar os custosos geradores.
Logo após a criação do Território Federal do Iguaçu, em 1943, o Presidente Getúlio Vargas designou o primeiro governador territorial nomeado, major João Garcez do Nascimento, seu assessor confiança, para levantar as necessidades da região.
Nascimento palmilhou pessoalmente as regiões Oeste e Sudoeste, tomadas por Vargas do Paraná sob a alegação de abandono pelas autoridades de Curitiba. No topo de suas anotações, o major assinalou a necessidade de estruturar o serviço público de energia elétrica.
Em 1944, em seu relatório, Nascimento fez ver ao poder central que havia a extrema urgência de instalar a energia elétrica por meio de geradores movidos a motores. Sugeriu, em consequência, a destinação de recursos para montar a estrutura de fornecimento de energia elétrica para as principais cidades da região, calculando-os em torno de 60 milhões de cruzeiros.
Benefício da democracia
O Território Federal morreu sem que as providências recomendadas fossem cumpridas. Ditaduras não precisam atender às exigências da população, mas com o retorno da democracia, após a vitória dos Aliados sobre o nazifascismo na II Guerra Mundial, a situação mudou.
A oportunidade de conquistar energia elétrica para as comunidades veio com as sucessivas eleições municipais, estaduais e federais que vieram com o retorno à democracia. A eletricidade era invariavelmente o primeiro item das reivindicações feitas pelas comunidades pioneiras do Oeste aos candidatos nas eleições que vieram com o fim do regime ditatorial.
Na Câmara de Foz do Iguaçu, no início de 1947, o vereador Antônio Alves do Amaral pediu ao prefeito Júlio Pasa a abertura de concorrência para instalação de luz elétrica em Cascavel.
Pasa havia tomado essa providência para a cidade-sede do Município e o vereador Amaral aproveitou para pedir a providência também para Cascavel. Sem recursos, o pedido ficou no papel.
No fim desse ano, porém, o colonizador e fundador de Toledo, Alfredo Ruaro, apresentou à Prefeitura de Foz uma proposta concreta de instalação de energia elétrica no Distrito de Cascavel, em favor da área distrital onde hoje se encontra o Município de Toledo.
Tuiuti: energia para os bailes
Na sessão da Câmara de Foz do dia 20 de dezembro de 1947, o mesmo vereador Antônio Alves do Amaral apresentou uma série de pedidos de providências para problemas urgentes registrados no Distrito de Cascavel, dentre os quais a energia.
Na mesma sessão entrou em debate a proposta de Alfredo Ruaro para a instalação de energia elétrica em Cascavel. Defendia a urgência da eletricidade pela crescente exploração econômica do pinheiro, que atraía diversos grupos de colonos oriundos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Em janeiro de 1948 voltou a ser discutido o futuro da energia elétrica em Cascavel na tribuna da Câmara de Foz. A Prefeitura iguaçuense já se mostrava inclinada a construir a usina hidrelétrica requerida por Ruaro.
O Estado doaria um grande gerador e outros equipamentos e Alfredo Ruaro completaria tudo o que fosse necessário. Por essa época, em Cascavel já havia energia elétrica fornecida por motores, principalmente a serviço da Industrial Madeireira do Paraná (Imapar).
Fundado em 1949, o Tuiuti Esporte Clube também precisava de energia elétrica para suas atividades noturnas e foi um elemento de pressão a mais, a partir daí, para a definição da geração elétrica na cidade.
Quem se desdobrava em achar soluções energéticas era José Smarczewski, o Zé do Torno, que operava um conjunto gerador portátil em seus trabalhos no meio rural e decidiu aproveitá-los também para atender ao Tuiuti: “O primeiro motor era da marca Petry, máquina importada com dois cilindros e capacidade de gerar 15 KVAs”.
A hidrelétrica de Toledo
Ao assumir a Prefeitura de Cascavel, em 14 de dezembro de 1952, o prefeito José Neves Formighieri naturalmente havia colocado a energia elétrica no topo das providências listadas. Foi à falida Cidade Munhoz da Rocha e trouxe de lá um motor GM de 75 KVA, postes e fios.
De imediato, o prefeito fez aprovar na Câmara a lei 19, de 3 de agosto de 1953, abrindo crédito especial para a aquisição de uma bomba d’água destinada a abastecer o motor para fornecer a energia elétrica à cidade.
Providência tomada de imediato, a necessidade de concentrar o foco municipal na manutenção da luz levou o Município à lei 31, de 10 de novembro, criando o Departamento Municipal de Engenharia, “órgão técnico, cuja função será a de estudos e planejamento de obras públicas municipais”.
Uma das obras previstas seria uma hidrelétrica, mas não poderia ser ainda uma conquista só do Município, com a cidade ainda pequena e poucos contribuintes.
Para dobrar o fornecimento de energia, a Prefeitura conseguiu junto ao governo do Estado um motor Cummins também de 75 KVA.
Toledo se adiantou e em junho de 1956 inaugurou a usina geradora de energia elétrica do Rio São Francisco, com o que a economia passou a se movimentar mais rapidamente na região.
As cidades cresciam ao embalo da produção de madeira e os geradores que forneciam luz a Cascavel tinham o fornecimento racionado. O primeiro dos vários incêndios criminosos que ocorreram em Cascavel avariou as instalações elétricas e o racionamento piorou.
Por uma solução duradoura
Com a cidade crescendo, as soluções de juntar geradores para dobrar a oferta já não resolviam o problema, até porque o óleo diesel era comprado em centros de abastecimento, faltando quando as chuvas se prolongavam e as estradas ficavam intransitáveis.
“Na época, algumas famílias dispunham de motor a diesel para a geração de energia própria, mas a população em geral e as ruas da cidade viviam às escuras durante a noite. Por isso, foi convocada uma reunião das lideranças da comunidade para debater o assunto no Tuiuti Esporte Clube, então a sociedade mais representativa da população de Cascavel” (Dercio Galafassi, jornal O Paraná, 27/9/2005).
Nessa reunião surgiu a proposta de organizar uma companhia mista de energia elétrica, cujos acionistas pagariam cotas. No entanto, por deficiências de organização na época, essa companhia não evoluiu, mas as lideranças não desistiram.
Mais de uma iniciativa ainda foi empreendida até que se propusesse a ideia de procurar um salto d’água para a instalação de uma usina hidrelétrica, enquanto se procuraria recursos com ação política, já que a redemocratização do país favorecia as demandas populares.
Em busca de uma cachoeira
Cascavel, assim, teria que encontrar uma cachoeira propícia para se candidatar a receber recursos do governo federal ou estadual para iniciar a hidrelétrica.
“Caravanas eram formadas pelo interior do município para procurar um salto d’água condizente com as necessidades de Cascavel”, lembrou Galafassi. “Procurou-se no Rio Cascavel, Rio Andrada, até que meu sogro, Júlio Gomes Sobrinho, informou que na fazenda onde ele administrava, Santa Terezinha, quase na barra do Melissa com o Rio Piquiri, tinha um grande salto d’água”.
As lideranças se deslocaram ao local e não foi preciso nenhum estudo adicional para constatar que aquela era a melhor queda d’água disponível a uma distância razoável da sede urbana. O passo imediato era conseguir recursos para viabilizar a usina e a extensão das linhas de transmissão.
O novo prefeito de Cascavel Helberto Schwarz, cunhado de Dércio Galafassi, conseguiu a promessa de verbas junto ao Departamento de Fronteiras e isso permitiu a construção da usina do Rio Melissa.
Em 30 de setembro de 1957, Schwarz fazia aprovar a lei 65/57, que o autorizava a construir uma usina geradora de energia elétrica no salto do Rio Melissa:
“Art. 1° – Fica autorizada a Prefeitura Municipal de Cascavel, na pessoa do senhor Prefeito Municipal, a construir uma Usina Hidrelétrica neste Município. Parágrafo 1° – A Usina Hidrelétrica, de que trata este artigo, terá uma capacidade inicial de 2.000 KVA”.
Uma empresa de Joaçaba (SC), Lindeler, foi contratada para fornecer a turbina e o gerador. Outra empresa, a Valente, de Curitiba, iria construir a obra civil – uma mini-barragem.
100 anos da revolução: O presidente negro
Na Presidência, Nilo Peçanha, o presidente negro, criou o Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI, antecessor da Funai) e as escolas de aprendizes, precursoras dos Cefets, tornando-se o patrono da educação profissional e tecnológica no Brasil.
Sua morte, em 21 de março de 1924, pôs fim à perspectiva do retorno. Favorecido pelas bases populares, seus comícios vibrantes o punham na condição de mais forte adversário do presidente Artur Bernardes.
Na sociedade e no Exército crescia a intolerância com o elitismo do governo e suas frequentes fraudes eleitorais e a revolução, portanto, já estava madura quando Peçanha morreu.
O fim de Peçanha desanimou a oposição política, mas facilitou a pregação revolucionária, sobretudo porque ele e o general Isidoro Dias Lopes desde o primeiro semestre de 1923 já estudavam um plano para desfechar o golpe se Bernardes não renunciasse.
A usina hidrelétrica do Rio Melissa, destacando o salto escolhido para a geração.