Relatório aponta avanços, mas desigualdades seguem estruturais no Brasil
Relatório aponta avanços, mas desigualdades seguem estruturais no Brasil
Por Administrador
Publicado em 01/09/2025 08:48
ECONOMIA
Estudo do Dieese, lançado em Brasília, mostra melhora em 25 de 43 indicadores, mas alerta para persistência de disparidades de raça, gênero e região

O Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades lançou nesta quinta-feira, 28, em Brasília, o terceiro Relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades 2025, produzido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Entre os 43 indicadores avaliados, 25 registraram avanços nos dados mais recentes, com destaque para meio ambiente, mercado de trabalho, educação e saúde. Houve, no entanto, três retrocessos – ligados à saúde e às condições de moradia – e oito estagnações. A conclusão é que, apesar dos progressos, as desigualdades de raça/cor, gênero e região continuam estruturais no país.

Relatório aponta avanços, mas desigualdades seguem estruturais

O deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) afirmou que os números não podem ser naturalizados:  “Isso não são números. São pessoas”

Foto: Reprodução/Agência Câmara

O deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) afirmou que os números não podem ser naturalizados:  “Isso não são números. São pessoas, histórias, memórias, mulheres, trabalhadores e crianças que precisam de um país justo, solidário, fraterno, democrático e soberano.”

Já o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, coordenador do Pacto, disse que os avanços são “muito lentos” e que a desigualdade permanece um “problema dramático”. “O Observatório tenta registrar um diagnóstico perverso da desigualdade estrutural. E, de outro lado, trazer resultados que mostrem como estamos conseguindo, gradativamente, superá-la.”

 

Meio ambiente e clima

O relatório mostra redução das emissões de carbono de 12,4 tCO₂ e per capita, em 2022, para 10,8 tCO₂, em 2023. O Brasil, que sediará a COP30 em novembro, também reduziu o desmatamento em 41,3% entre 2022 e 2024.

Apesar da queda geral, Acre (+31%), Roraima (+8%) e Piauí (+5%) registraram aumento no desmatamento.

Para a ativista Gisele Brito, do Instituto de Referência Negra Peregum, os dados refletem os impactos do agronegócio: “O agronegócio concentra renda e terras, gera conflitos por água e território e afeta diretamente quilombolas e indígenas, além de interromper formas de vida tradicionais.”

Educação

Houve crescimento na taxa de crianças de 0 a 3 anos em creches: de 30,7% (2022) para 34,6% (2024). A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) era de 50% até este ano, ainda não alcançada.

Relatório aponta avanços, mas desigualdades seguem estruturais no país

Clemente Ganz Lúcio, coordenador do Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades

Foto: Reprodução/Agência Câmara

A escolarização no ensino médio subiu de 71,3% para 74%, e no ensino superior, de 20,1% para 22,1%. Mas a maioria dos jovens de 18 a 24 anos ainda não está nas universidades.

As mulheres não negras lideram o acesso ao nível superior (32,4%). Já as mulheres negras representam apenas 20,3%.

Trabalho, renda e pobreza

O rendimento médio chegou a R$ 3.066 em 2024, alta real de 2,9% em relação ao ano anterior. A desocupação caiu de 7,8% para 6,6%, com reduções mais acentuadas entre mulheres (de 9,5% para 8,1%) e negros (de 9,1% para 7,6%).

Ainda assim, a desigualdade persiste: os 1% mais ricos ganham 30,5 vezes mais que os 50% mais pobres – em 2023, eram 32,9 vezes.

A proporção de pobres caiu 23,4% em 2024, segundo critérios do Bolsa Família.

Saúde

A mortalidade materna caiu de 113 mortes por 100 mil nascidos vivos (2021) para 52 (2023). Mas os números são piores no Norte (71/100 mil) e no Nordeste (59/100 mil).

Por outro lado, o feminicídio cresceu de 1.350 (2020) para 1.492 (2024), contrariando a queda geral das mortes violentas.

A mortalidade por causas evitáveis subiu de 30,6% (2021) para 39,2% (2023). Entre negros, foi ainda maior: 51,8% para homens e 37,8% para mulheres.

Entre indígenas, 7,7% das crianças estavam abaixo do peso em 2023, contra 6,7% em 2022. Além disso, o relatório registrou 208 assassinatos de indígenas em 2023, sendo Roraima (47), Mato Grosso do Sul (43) e Amazonas (36) os estados mais violentos.

Justiça tributária

Os dados do relatório reforçam a necessidade de reforma tributária progressiva. Para rendimentos acima de 20 salários mínimos, a tributação se torna regressiva. Quem ganha mais de 320 salários mínimos teve queda da alíquota média de IR de 5,43% para 4,87%.

Conclusões e alertas do relatório

Segundo a diretora técnica do Dieese, Adriana Marcolino, a desigualdade segue fortemente marcada por gênero, cor/raça e território: “Mesmo nos indicadores que cresceram acima da média, as desigualdades continuam bastante relevantes.”

Relatório aponta avanços, mas desigualdades seguem estruturais

Adriana Marcolino, Diretora Técnica do Dieese

Foto: Reprodução/Agência Câmara

Ela destacou a piora em áreas como moradia em áreas de risco (4,3 milhões de pessoas em 2025, 7,5% a mais que em 2023) e a maternidade precoce, que caiu, mas segue desigual entre negras (13,8% dos nascidos vivos) e não negras (7,9%).

Para Clemente Ganz Lúcio, o desafio é combinar crescimento econômico com políticas públicas que acelerem a redução das desigualdades.

Assista ao vídeo da coletiva de apresentação: 

Quem faz parte do do Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades

  • Associação Brasileira de Municípios (ABM)

  • Ação da Cidadania

  • Ação Educativa

  • Cenpec

  • Coalizão Negra por Direitos

  • Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP)

  • Fundação Tide Setubal

  • Instituto Cidades Sustentáveis

  • Instituto Ethos

  • Instituto de Referência Negra Peregum

  • Oxfam Brasil

  • Sindifisco Nacional

Comentários
Comentário enviado com sucesso!

Chat Online