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UM MODELO - DISCURSOS MORALISTAS ENCOBREM PROJETOS DE QUADRILHAS.
UM MODELO - DISCURSOS MORALISTAS ENCOBREM PROJETOS DE QUADRILHAS.
Por Administrador
Publicado em 26/12/2025 08:44
EDITORIAL
UM MODELO - DISCURSOS MORALISTAS ENCOBREM PROJETOS DE QUADRILHAS.

Cargos públicos deixam de ser função social e viram instrumentos de enriquecimento privado.

Escandaloso: o prefeito de Turilândia (MA), Paulo Curió, do União Brasil, e um grupo de aliados políticos foram alvo da Operação Tântalo II, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Maranhão, por suspeita de chefiar um esquema que desviou mais de R$ 56 milhões dos cofres públicos municipais por meio de contratos fraudulentos e empresas de fachada. 

Entre os detidos estão a vice-prefeita Tânia Mendes, a primeira-dama e pré-candidata a deputada estadual, Eva Curió, além de cerca de 20 vereadores e outros agentes públicos e empresários que teriam ligação com a administração local. 

Paulo Curió, que chegou a ficar foragido, acabou se entregando à Justiça após alguns dias, acompanhado da primeira-dama.  

O que essa prisão coletiva no Maranhão revela vai muito além de um esquema de corrupção. Ela expõe uma arquitetura de poder baseada na captura do Estado por grupos que aprenderam a usar discurso moral como cortina de fumaça para práticas profundamente imorais. Não é só sobre roubo de dinheiro público. É sobre a transformação da política em território de saque, protegida por uma narrativa que se apresenta como virtuosa enquanto opera como predatória.

Durante anos, o bolsonarismo se vendeu como sinônimo de ordem, honestidade e ruptura com a velha política. Na prática, o que se viu foi a deslegitimação sistemática das instituições de controle, o ataque à imprensa, a demonização do Judiciário e a criação de um ambiente em que qualquer fiscalização era tratada como inimiga. Esse terreno é perfeito para que esquemas floresçam. Quando se destrói a confiança nos mecanismos de vigilância, abre-se espaço para que a corrupção se torne método.

A gravidade do caso não está apenas no valor desviado, mais de 56 milhões de reais, mas na naturalização de um sistema em que cargos públicos deixam de ser função social e viram instrumentos de enriquecimento privado. Empresas de fachada, lavagem de dinheiro e organização criminosa não são acidentes. São estruturas que exigem coordenação, cumplicidade e, sobretudo, um ambiente político que tolere esse tipo de prática.

Mais inquietante ainda é perceber como parte da sociedade é ensinada a defender esses esquemas emocionalmente. A lógica da torcida substitui a lógica da cidadania. A crítica vira traição. A denúncia vira perseguição. E o corrupto, desde que esteja “do lado certo”, passa a ser protegido por uma blindagem simbólica construída em torno de identidade, medo e ressentimento.

Esse caso não é uma anomalia. Ele é um sintoma. Um sintoma de um modelo político que corroeu a noção de bem público, fragilizou as instituições e transformou a política em espetáculo de guerra cultural permanente. Enquanto esse modelo não for desmontado, novas versões dessa mesma história continuarão a surgir, mudando apenas o cenário, os nomes e as cifras.

O que está em jogo não é apenas punir culpados, mas reconstruir a ideia de que o Estado não é propriedade de grupos, que o cargo não é prêmio e que o dinheiro público não é botim. Sem isso, qualquer discurso anticorrupção continuará sendo apenas marketing moral para encobrir velhas práticas com novas roupas.

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