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No Brasil de Master e sonegadores bilionários, salário mínimo virou o vilão…
No Brasil de Master e sonegadores bilionários, salário mínimo virou o vilão…
Por Administrador
Publicado em 29/12/2025 09:54
Opinião
No Brasil de Master e sonegadores bilionários, salário mínimo virou o vilão…

O governo anunciou que o salário mínimo será reajustado para R$ 1621 a partir de Primeiro de Janeiro, mantendo a promessa de Lula de aumento real — política tocada por todos os presidentes há 23 anos, menos, Jair Bolsonaro. Foi o bastante para trombetas anunciarem uma hecatombe maia. A mesma trombeta tocada quando se discute taxação de dividendos, redução drástica de subsídios e combate aos grandes sonegadores.

Há muita gente crítica ao reajuste do mínimo que eu respeito e que traz subsídios e argumento concretos. Outros fazem isso por aporofobia mesmo. Mas, ao fim do dia, esta é uma escolha política, que diz respeito ao sentido do país. Na minha avaliação, não dá mais para sacrificar peões a fim de ganhar o jogo. Ou esperar o bolo crescer porque a divisão do tal bolo é que nem Godot, num vem.

 O programa de transferência de renda para os miseráveis tem custo de cerca de R$ 158 bilhões, beneficiando cerca de 48,5 milhões de almas (o número vem caindo por conta da melhoria econômica das condições das famílias). Enquanto isso, benefícios e renúncias fiscais para o andar de cima somam cerca de R$ 800 bilhões e são uma mão na roda — dos donos de empresas com poder de lobby aos mais ricos que conseguem deduzir integralmente gastos de saúde no Imposto de Renda.

Mas os que chiam com os 158, normalmente acham normal os 800.

Por mais que o ano tenha terminado com o governo conseguindo junto aos parlamentares um corte linear de 10% em benefícios fiscais de empresa, o montante ainda é pouco. Isso sem falar na isenção de lucros e dividendos (que deve melhorar com a taxação para compensar a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, mas está longe do ideal). 

Além de uma sociedade voltada a proteger o andar de cima, temos uma classe política e uma Justiça que, muita vezes, também servem como Guerreira do Capital Alheio.

Neste 2025, vimos investigações como aquelas sobre o Banco Master (que mamou nas tetas de bilhões em grana pública, vendendo terrenos na lua), a Refit (que deve R$ 26 bilhões em grana sonegada no mercado de combustíveis), Ultrafarma e Fast Shop (envolvidas em um escândalo para sonegação em São Paulo), entre tantos outras. Estamos falando de grana que deixou de entrar nos cofres públicos ou que saiu de forma ilegal, com a ajuda ou a benção de gente do Estado.

Prefeituras conseguiram um desconto de R$ 504 bilhões em suas dívidas previdenciárias no Congresso. Walderley

Preite Sobrinho, que traz a informação hoje no UOL, aponta que se isso não tivesse acontecido, uma nova reforma

previdenciária poderia até ser evitada.

Isso sem falar nas bilionárias emendas parlamentares, que estão sob investigação da Polícia Federal sob a batuta de Flávio Dino, no STF. Não aquelas que cumprem seu papel, com transparência e prestação de contas. Mas as vagabundas, que viram patrimônio particular de políticos e aliados e caixa 2.

Tenho um arrepio na espinha quando vejo economistas com pedigree, nobres deputados e senadores e cidadãos criados no leite de pera virem a público para dizer que, neste momento, sacrifícios precisam ser feitos para evitar que o Brasil quebre. Mas empurram apenas à xepa para ser imolada no altar do que chamam bom senso. E se alguém lembra "e os ricos?" é chamado de burro. Ou comunista.

Daí vem uma enxurrada de ideias que começam com o fim do aumento real do salário mínimo, passam por mudanças no investimento constitucional em educação e saúde que beneficia o povaréu até a desvinculação dos benefícios previdenciários e assistenciais desse mínimo.

Desvincular significaria que o reajuste anual desses benefícios ocorreria apenas pela inflação ou, talvez, nem isso. Com o passar dos anos, a situação distanciaria o seu valor do mínimo salário vigente — que voltou a ter ganhos reais, ou seja, acima da inflação, desde o início do terceiro governo Lula.

Constrói-se, aos poucos, e silenciosamente, a ideia de que o Brasil não aguenta pagar o mínimo para garantir uma vida digna a quem não está na ativa e aposentado. Lembrando que ele vai para R$ 1.621, bem longe dos R$ 7.067,18, calculados mensalmente pelo Dieese, a fim de cumprir o mínimo constitucional e garantir vida digna a uma família.

Viver uma democracia não é apenas ter liberdade para investir e ganhar dinheiro, mas também dividir as responsabilidades nos momentos de dificuldade. Direitos e deveres vêm de mãos dadas na Constituição. Mas a democratização do chicote provoca pavor em muita gente do andar de cima e naqueles que defendem os mais ricos mesmo não tendo aonde cair morto.

Pequeno gafanhoto, calma, não estou aqui defendendo que os pobres não entrem no grande esforço nacional, até porque eles são sempre os primeiros a serem apontados como "voluntários" para tanto. Estou falando de isonomia, com cada qual contribuindo de acordo com suas possibilidades e sob a luz da Justiça social e tributária que é o espírito da Constituição de 1988.

Há problemas com o Orçamento e a Previdência que precisam, mais cedo ou mais tarde, ser encarados de frente. Mas seria fundamental que antes de tungar o andar de baixo para fechar as contas, o Congresso, a Justiça e a sociedade começassem com o andar de cima. Não que cortar privilégios dos mais ricos vá resolver o problema, mas isso ajuda pelo menos a fingir que vivemos realmente em uma democracia.

É fato que déficits da Previdência Social vêm aumentando e que isso não pode ser ignorado. Mas reclamar disso e não falar de todas as causas é sacanagem. Com categorias que se beneficiam de condições especiais (como os militares), o sistema sangrando através de fraudes trabalhistas (como terceirização e pejotização ilegais) e até a resistência de plataformas de motoristas e entregadores de recolherem encargos previdenciários (o sistema de MEI é importante, mas ele gera um baita déficit), a situação realmente fica difícil.

O andar de cima deita e rola em dinheiro público e a culpa pela conta não fechar é só do aumento do salário mínimo? Vale lembrar que ataques à democracia não são apenas aqueles descarados do bolsonarismo.

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