As ditaduras eleitas
Opinião
Publicado em 20/04/2024

J.  J. Duran

 

Cada país está condicionado às condições impostas pelo seu passado, pelo seu comportamento social e cultural, pela distribuição democrática do poder e pela inteligência política.

Nenhum governante, mesmo dos mais capazes, pode transformar um país atrasado culturalmente em uma potência mundial, pois essa realidade traça fronteiras intransponíveis.

No âmbito dessa realidade, tão pouco conhecida pelos governantes, pode haver grandes avanços em direção ao tão prometido desenvolvimento, mas normalmente o que vemos são reveses torpes e mesquinhos causados pela incompetência dos "iluminados" de turno, independente se de direita ou de esquerda.

Nas sociedades contemporâneas, causas idênticas não produzem invariavelmente os mesmos efeitos. A deterioração da economia e suas crescentes desigualdades sociais causam profundas crises, porém nem sempre as consequências são as mesmas.

Quando uma sociedade sofre profunda crise de confiabilidade em seus governantes, acaba se sentindo frustrada e transformando a revolta cívica em ódio, como se esse fosse o caminho para a busca das soluções adequadas.

Essa revolta começa por rotular os políticos como únicos culpados pelo fracasso, e o sistema jurídico como pedra removível na sua estrutura, e os culpados sempre terminam por questionar o valor das instituições como pedras a serem removidas.

No passado, para curar o fracasso a própria cidadania optou por eleger figuras ditatoriais e carentes do menor sentido republicano.

Assim surgiram o populismo da esquerda e o autoritarismo raivoso da direita, sempre mantidos por um Parlamento submisso por conta de uma maioria corrompida pelas duvidosas e tenebrosas "emendas parlamentares",

O filósofo, jornalista e ativista político espanhol José Ortega y Gasset resumiu perfeitamente as ditaduras eleitas democraticamente ao opinar que, nesses casos, "sabemos que não sabemos nada".

Resta, como consolo, que no meio das incertezas o povo sempre encontrou o caminho certo... Ou não? (Foto: Arquivo AGBR)

 

J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná

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