J. J. Duran
A democracia, nos países onde ela realmente funciona como sistema político republicano, é ferramenta valiosa de proteção do povo, que se sente representado por cada político que ocupa um lugar transitório no Parlamento.
Eleitos para mandato com prazo de validade, esses homens públicos têm a obrigação moral de cumprir os compromissos assumidos com o eleitorado e com o processo democrático.
Hoje, é lamentável perceber a forte separação existente entre a sociedade civil e a classe política, fruto da discordância e da cultura republicana predominantes.
O ministro do STF Luís Roberto Barroso manifestou, em seu livro intitulado "Sem data vênia", que a corrupção existe no mundo desde os primórdios, sinalizando que todas as gerações humanas já sofreram o escárnio de conviver com a defrautação moral.
Existe uma forte relação entre essa diferente forma de entender a moral - não só no Brasil, mas em quase todos os países do nosso jovem continente - e o reordenamento do cenário democrático.
O povo vive em estado vegetativo em um amplo fosso existente entre as minorias patrimonialistas e as maiorias oprimidas, entre as promessas e as traições de muitos dos representantes por ele eleitos.
Em muitas épocas o mandato foi manchado em benefício de escuros interesses pessoais ou societários, que começam logo nos menores laboratórios da democracia, que são as câmaras municipais.
Existem valiosas expressões de civismo e de honestidade imaculada de ilibados membros dos parlamentos republicanos que marcaram, com sua presença, um tempo lamentavelmente já ultrapassado de moral e de forte apego aos compromissos políticos.
Certa vez, ao tratar desse tema, o filósofo italiano Bento Berardi escreveu que "os representantes políticos da nova direita patrimonialista são a expressão bem vestida da impotência moral".
Por isso o embaixador francês Stéphane Hessel, membro da resistência durante a II Guerra e tomado pela indignação, não perdeu a oportunidade de conclamar todos a fazerem uma insurreição pacífica contra esse estado imoral. (Foto: Tânia Rêgo/AENPR)
J. J. Duran é jornalista, escritor, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná