Publicado em 12/03/2025 por Administrador
Quando Tânia Dias contactou Marco Bento para o ajudar a encontrar uma nova banda de rock para tocar no seu restaurante, no Luxemburgo, não imaginava que se tornaria seu parceiro de vida (e de aventuras).
Natural de Coimbra, Tânia emigrou há 20 anos para o Luxemburgo, onde inaugurou um diner que serve hambúrgueres e comida americana, inspirado no universo motard e decorado com elementos de rock. Marco, por sua vez, nasceu no Luxemburgo, filho de pais transmontanos, e é membro do clube de motards mais antigo do país.
Os gostos musicais semelhantes e a paixão por motas uniram-nos há cerca de nove anos, levando-os agora a uma jornada épica pelo mundo. Marco, com 41 anos, sempre teve o hábito de viajar de mota pela Europa, uma aventura que começou a ser partilhada com Tânia, que tem 42 anos, desde o dia em que se conheceram.
“Sempre que íamos de férias ou a Portugal, fazíamos a viagem de moto. Costumávamos seguir na direção do sol, sem planos definidos e sem reservas em hotéis, apenas com as nossas tendas”, conta o casal à NiT.
Contudo, chegou um momento em que as viagens pela Europa já não eram suficientes. “Comecei a sentir uma grande pressão no Luxemburgo, não me sentia bem e queria descobrir mais do que a Europa. Conversei com a Tânia e ela aceitou fazer uma volta ao mundo”, recorda Marco.
O projeto inicial era partir em 2020, mas a pandemia alterou os planos, levando-os a adiar a aventura para 2022, após venderem “tudo o que podiam” para financiar a viagem.
A volta ao mundo
Tânia deixou para trás o restaurante, enquanto Marco tirou uma licença sem vencimento de cinco anos no trabalho, e partiram do país com as duas motas — duas BMW, uma de 2002 e outra de 2003 — e o cão Spike. Após fazerem parte da Europa, “começou a aventura a sério”.
“Apesar de tudo, o continente europeu é muito simples, só a partir da Turquia é que começaram a surgir os verdadeiros desafios”, admitem. Foi também no continente asiático, depois de visitar países como Iraque, que desconstruiram “muitos dos seus preconceitos”.
“Com tudo o que nos bombardeiam na Internet, somos impingidos com tantas coisas más sobre os muçulmanos. Tudo isso foi desconstruído quando entrámos nestes países. No Iraque, além das paisagens incríveis, a maior surpresa foram as pessoas”, admitem. Durante o tempo que ficaram lá, “não houve um único dia” em que não ficaram em casas de pessoas que os convidavam para dar abrigo.
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Tânia lembra-se de uma conversa em particular com os rapaz das suas idades. “Levou-me à rua, para um local específico, e disse-me que foi ali que o tio morreu devido a bombardeamentos. Contou-me que teve de fugir por um muro para ir salvar as irmãs”, recorda a viajante.
Mesmo num país marcado por guerras e conflitos, ali “estão sempre a dançar e a cantar”. Não há álcool, mas as “noites são de festa e passadas a fazer jogos”, sem telemóveis nem distrações. “Fazem muito aqueles jogos do género verdade ou consequência. Foi nessa altura que percebi que temos todos as mesmas aspirações, medos e objetivos”, sublinha.
Na Arábia Saudita, tiveram a oportunidade de conhecer um senhor que fazia parte de “uma das famílias mais ricas” do país e que os ajudou sem pensar duas vezes. Na altura, com apenas 300€ nos bolsos — estipularam gastar um máximo de 40€ por dia desde o início da viagem — estavam a passar algumas dificuldades devido ao dinheiro.
“Começou a perguntar-nos se era uma viagem que custa muito financiar e dissemos que sim. Depois veio com dois envelopes e deu 500€ a cada um. Não tínhamos dinheiro nem para voltar para trás, estávamos ali num impasse e não queríamos pedir ajuda à nossa família, mas graças a ele conseguimos continuar”, recorda a dupla.
A chegada à América
O Irão, o Paquistão, o Nepal, Laos e Camboja foram outros dos países que “conheceram com calma e sem pressas” antes de chegaram ao continente em americano, no final do ano passado. Durante o período em que foram obrigados a esperar que a mota chegasse ao outro lado do mundo, decidiram fazer voluntariado no Camboja para “ocupar o tempo e poupar dinheiro”.
Durante cerca de um mês, Marco passou os dias a construir bungalows num resort, enquanto Tânia trabalhava no restaurante, tudo isto em troca de refeições e alojamento. Uma das experiências que viveram no país, contudo, não correu assim tão bem.
“Apanhámos um speedboat e o comandante era louco. Estava uma tempestade tão grande que só o barco inclinar-se de tal forma que começou a entrar por todo o lado. Quando olhei estavam quase 50 centímetros de água lá dentro, depois começou aos gritos a dizer para irmos para o lado direito para endireitar o barco. Só me preocupei em salvar o Spike, mas perdemos tudo o resto, como os computadores e os powerbanks”, recorda. Chegaram em segurança ao destino, mas, para Tânia, “foi um dos momentos mais assustadores” da viagem.
No final do ano passado aterraram no continente americano, mas o início deste novo capítulo não podia ter arrancado da pior maneira. As coisas começaram a correr mal quando foram impedidos de tirar as motas da alfândega, no México. “Não nos davam os veículos, exigiam coisas que não passam pela cabeça de ninguém e tivemos que pedir dinheiro à nossa família para conseguir ter as motas”, conta o casal.
Pouco depois, ainda no México, descobriram que o Spike, o cão que estava com eles há uma década, estava com cancro no abdómen e acabou por morrer. “Foi uma parte muito negra da viagem, ainda me custa. Ficámos cerca de três semanas a recuperar, só queríamos estar sozinhos a fazer o nosso luto”.
Ainda com o coração apertado, deram então início pela aventura no México, o primeiro país que estão a desbravar no continente sul-americano. O próximo será a Guatemala e, a partir daí, vão descendo até ao Panamá para depois se aventurarem pela América do Sul.
Depois, segue-se o continente africano, o último antes de darem por encerrada a volta ao mundo, em julho de 2027. Até lá, vão continuar a partilhas vlogs das viagens nas redes sociais, tanto no Instagram como no TikTok, onde são conhecidos como Vollgaskoppel.
Os vídeos surgiram quase por brincadeira. A ideia inicial era enviá-los apenas à família para mostrar que estavam “vivos e em segurança”, mas agora decidiram partilhá-los também com os seguidores.
Carregue na galeria para ver algumas fotografias do casal de viajantes na sua volta ao mundo.






